quinta-feira, 30 de agosto de 2012

RABDOMIÓLISE



Olá! 

Com havia prometido, vamos dar continuidade ao post de "Exercícios de Alta Intensidade". Hoje falaremos um pouco sobre a Rabdomiólise e teremos a honra de ler o texto escrito pela Professora Vanessa Lima, Mestranda em Ciências Fisiológicas na UECE e Especialista em Treinamento Desportivo.

BOA LEITURA!



Caros leitores!

            É com enorme satisfação que hoje estou aqui a convite do meu caro amigo Diego Lacerda, para dar continuidade ao tema iniciado no post anterior. Hoje, enfatizaremos um dos danos associados ao exercício de alta intensidade em altos volumes conhecida como RABDOMIÓLISE.

O QUE É RABDOMIÓLISE?

Rabdomiólise é uma síndrome caracterizada pela ruptura das células musculares esqueléticas que apresenta um amplo espectro de sintomas clínicos e achados laboratoriais (Rosa et al, 2005).

Quando isso ocorre, o conteúdo das células musculares, como creatina quinase (CK) e a mioglobina, é liberado na corrente sanguínea, o que pode ser potencialmente tóxico e ocasionar  lesão nos rins e arritmias cardíacas, levando, em casos extremos, à morte.

FISIOPATOLOGIA

Os conteúdos das células musculares extravasam devido a um grau de desestruturação celular nas células lesadas com uma degradação dos lipídios e das proteínas estruturais. Assume-se que a sobrecarga do exercício induz um aumento da concentração de cálcio intracelular que pode desencadear uma contração muscular persistente, com esgotamento das reservas energéticas, e uma sequência de eventos até o termino do exercício. O aumento do cálcio intracelular altera os sistemas de transporte de fluídotranscelulares (ATP-dependente). A falha nesses sistemas provoca edema muscular e aumento progressivo das pressões entre os compartimentos celulares, interferindo na integridade celular. Ainda, o aumento do cálcio sarcoplasmático livre pode alterar as enzimas proteolíticas como a fosfolipase A2 que afeta a integridade da membrana, resultando em um aumento da sua permeabilidade ocorrendo, então, a liberação do conteúdo dos miócitos para circulação (Cervellin et al., 2010; Cordova, 2000).

As alterações iniciais do dano muscular são seguidas por uma resposta celular inflamatória. Com o fim da isquemia relativa que ocorre no momento da contração vigorosa, vem a reperfusão para o tecido lesado, ocorrendo a migração dos leucócitos e a disponibilidade de oxigénio necessários para a produção de radicais livres. Estabelece-se, assim, uma reacção inflamatória miolítica que se auto-perpetua e que culmina na morte celular. (Cervellin et al., 2010; Rossi et al, 2009).

SINTOMAS

Um indivíduo com um quadro de rabdomiólise apresenta uma sintomatologia clássica: dor muscular, fraqueza muscular e urina escurecida. Essa tríade, no entanto, não é observada em todos os casos. Algumas manifestações clínicas que também aparecem frequentemente são febre, mal-estar geral, taquicardia, náuseas e vômitos. Se o caso não for diagnosticado rapidamente o quadro pode evoluir e apresentar Insuficiência Renal Aguda, coagulação intravascular disseminada e falência de múltiplos órgãos (Cervellin et al, 2010)

Em condições de treino mal programado, exercício vigoroso, sobretudo o tipo excêntrico, pode ocorrer rabdomiólise. Na verdade, provavelmente, os exercícios vigorosos de que são consequências as dores musculares, espasmos e dificuldade de locomoção nos dias subsequentes ao desenvolvimento da atividade, apresentam certo grau de rabdomiólise (Gama, 2005), contudo se os processos reparadores funcionarem satisfatoriamente esse estado transitório não se instala em uma lesão persistente.

Os grupos de músculos que estão frequentemente envolvidos são dos da panturillha e lombar estes podem apresentar tensão e inchaço (Cervellin et al, 2010)

Além do esforço físico propriamente dito, a privação de água, as condições adversas de clima e de umidade, bem como o calor, agravam ainda mais a situação (Rossi et al, 2009).

Dessa forma, deve-se está atento para a pratica de atividades físicas muito intensas por indivíduos não treinados, hipocalemicos (pessoas com baixo nível de potássio, pois é um vasodilatador da microvasculaturaa muscular), desidratados e aqueles que praticam exercício físico excêntrico e ou sob condições criticas , muito calor e alta umidade.

RELATOS

Os casos classicamente relatados na literatura dessa síndrome envolvem militares em período de instruções e exercícios físicos, submetidos a pratica em condições adversas e extremas. Mas, supreendentemente vem aumentando os relatos de casos na literatura em civis.

Segue um caso descrito por Rossi et al (2009), observe como é um perfil um tanto quanto familiar de vários alunos que buscam atividade física:

LFR, masculino, 25 anos, branco, solteiro, médico, 192 cm de altura, IMC 29.8, iniciou com mialgia importante em membros superiores e tórax há um dia. Apresentou também urina castanho-avermelhada desde então. A sua história pregressa revelou o início dos sintomas após um programa de atividade física estruturado em atividade anaeróbica (musculação). Referia que havia se exercitado uma única vez durante, aproximadamente, duas horas, com alta intensidade de contrações musculares excêntricas em ambiente quente e úmido. Apresentava-se sedentário havia oito meses. Mencionou que, durante seis anos, realizou atividades desportivas sem qualquer restrição e não apresentava história de miopatia clínica. Logo após o término da atividade, apresentou taquicardia, edema dos grupos musculares utilizados, fazendo uso de um comprimido de ciclobenzaprina de 10 mg cinco horas após o término da atividade física. Aproximadamente seis horas após atividade física, durante período de sono manifestou febre (não aferida) e delirium. No dia seguinte, mostrou importante rigidez muscular e fraqueza dos membros exercitados, gerando grande incapacidade funcional e dando o início a diurese castanho-avermelhada e diminuição do débito urinário.

Visto ter cogitado a possibilidade de tratar-se de um quadro de rabdomiólise, iniciou, imediatamente, e nas 12 horas subsequentes, a ingestão hídrica de sete litros de água via oral, bem como realizou exames laboratoriais.

Por força dos resultados dos exames e do regular estado geral, o paciente foi internado, quando eram, então, decorridos dois dias do esforço físico. No momento da internação, apresentava-se com calafrios intermitentes, sudorese profusa, rash cutâneo, cefaleia holocraniana, impossibilidade total de flexão dos membros superiores e execução de outros movimentos que envolvessem o tronco. E permaneceu internado até o desaparecimento da mialgia e do retorno dos valores de referências averiguados nos exames laboratoriais.

Por fim, diante de relatos cada vez mais frequentes, devemos nos manter atentos na prescrição da carga de treinamento, orientação e monitoramento de treinamentos constituídos por exercícios físicos de alta intensidade.

2 comentários:

  1. PERFEITO!! bem esclarecedor, sucinto e objetivo! profissionais e alunos precisam saber disto para que ambos tomem consciência das fronteiras invisíveis que não deveriam ultrapassar!
    Abraço

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  2. Oi, vc poderia me passar a referência desse artigo?

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