Olá!
Com havia prometido, vamos dar continuidade ao post de "Exercícios de Alta Intensidade". Hoje falaremos um pouco sobre a Rabdomiólise e teremos a honra de ler o texto escrito pela Professora Vanessa Lima, Mestranda em Ciências Fisiológicas na UECE e Especialista em Treinamento Desportivo.
BOA LEITURA!
Caros
leitores!
É
com enorme satisfação que hoje estou aqui a convite do meu caro amigo Diego
Lacerda, para dar continuidade ao tema iniciado no post anterior. Hoje,
enfatizaremos um dos danos associados ao exercício de alta intensidade em altos
volumes conhecida como RABDOMIÓLISE.
O QUE É RABDOMIÓLISE?
Rabdomiólise
é uma síndrome caracterizada pela ruptura das células musculares esqueléticas
que apresenta um amplo espectro de sintomas clínicos e achados laboratoriais (Rosa
et al, 2005).
Quando
isso ocorre, o conteúdo das células musculares, como creatina quinase (CK) e a
mioglobina, é liberado na corrente sanguínea, o que pode ser potencialmente
tóxico e ocasionar lesão nos rins e arritmias cardíacas, levando, em
casos extremos, à morte.
FISIOPATOLOGIA
Os
conteúdos das células musculares extravasam devido a um grau de desestruturação
celular nas células lesadas com uma degradação dos lipídios e das proteínas
estruturais. Assume-se que a sobrecarga
do exercício induz um aumento da concentração de cálcio intracelular que pode
desencadear uma contração muscular persistente, com esgotamento das reservas
energéticas, e uma sequência de eventos até o termino do exercício. O aumento
do cálcio intracelular altera os sistemas de transporte de fluídotranscelulares
(ATP-dependente). A falha nesses sistemas provoca edema muscular e aumento
progressivo das pressões entre os compartimentos celulares, interferindo na
integridade celular. Ainda, o aumento do cálcio sarcoplasmático livre pode
alterar as enzimas proteolíticas como a fosfolipase A2 que afeta a integridade
da membrana, resultando em um aumento da sua permeabilidade ocorrendo,
então, a liberação do conteúdo dos miócitos para circulação (Cervellin
et al., 2010; Cordova, 2000).
As alterações iniciais do dano muscular são
seguidas por uma resposta celular inflamatória. Com o fim da isquemia relativa
que ocorre no momento da contração vigorosa, vem a reperfusão para o tecido
lesado, ocorrendo a migração dos leucócitos e a disponibilidade de oxigénio
necessários para a produção de radicais livres. Estabelece-se, assim, uma
reacção inflamatória miolítica que se auto-perpetua e que culmina na morte
celular. (Cervellin et al., 2010; Rossi et al, 2009).
SINTOMAS
Um
indivíduo com um quadro de rabdomiólise apresenta uma sintomatologia clássica:
dor muscular, fraqueza muscular e urina escurecida. Essa tríade, no entanto,
não é observada em todos os casos. Algumas manifestações clínicas que também
aparecem frequentemente são febre, mal-estar geral, taquicardia, náuseas e
vômitos. Se o caso não for diagnosticado rapidamente o quadro pode evoluir e
apresentar Insuficiência Renal Aguda, coagulação intravascular disseminada e
falência de múltiplos órgãos (Cervellin et al, 2010)
Em
condições de treino mal programado, exercício vigoroso, sobretudo o tipo
excêntrico, pode ocorrer rabdomiólise. Na verdade, provavelmente, os exercícios
vigorosos de que são consequências as dores musculares, espasmos e dificuldade
de locomoção nos dias subsequentes ao desenvolvimento da atividade, apresentam
certo grau de rabdomiólise (Gama, 2005), contudo se os processos reparadores
funcionarem satisfatoriamente esse estado transitório não se instala em uma
lesão persistente.
Os
grupos de músculos que estão frequentemente envolvidos são dos da panturillha e
lombar estes podem apresentar tensão e inchaço (Cervellin et al, 2010)
Além
do esforço físico propriamente dito, a privação de água, as condições adversas
de clima e de umidade, bem como o calor, agravam ainda mais a situação (Rossi
et al, 2009).
Dessa
forma, deve-se está atento para a pratica de atividades físicas muito intensas por
indivíduos não treinados, hipocalemicos (pessoas com baixo nível de potássio,
pois é um vasodilatador da microvasculaturaa muscular), desidratados e aqueles
que praticam exercício físico excêntrico e ou sob condições criticas , muito
calor e alta umidade.
RELATOS
Os casos classicamente relatados na literatura dessa síndrome envolvem
militares em período de instruções e exercícios físicos, submetidos a pratica
em condições adversas e extremas. Mas, supreendentemente vem aumentando os
relatos de casos na literatura em civis.
Segue um caso descrito por Rossi et al (2009), observe como é um perfil um tanto quanto
familiar de vários alunos que buscam atividade física:
LFR, masculino, 25 anos, branco,
solteiro, médico, 192 cm de altura, IMC 29.8, iniciou com mialgia importante em
membros superiores e tórax há um dia. Apresentou também urina
castanho-avermelhada desde então. A sua história pregressa revelou o início dos
sintomas após um programa de atividade física estruturado em atividade
anaeróbica (musculação). Referia que havia se exercitado uma única vez durante,
aproximadamente, duas horas, com alta intensidade de contrações musculares
excêntricas em ambiente quente e úmido. Apresentava-se sedentário havia oito
meses. Mencionou que, durante seis anos, realizou atividades desportivas sem
qualquer restrição e não apresentava história de miopatia clínica. Logo após o
término da atividade, apresentou taquicardia, edema dos grupos musculares
utilizados, fazendo uso de um comprimido de ciclobenzaprina de 10 mg cinco
horas após o término da atividade física. Aproximadamente seis horas após
atividade física, durante período de sono manifestou febre (não aferida) e delirium. No dia seguinte, mostrou
importante rigidez muscular e fraqueza dos membros exercitados, gerando grande
incapacidade funcional e dando o início a diurese castanho-avermelhada e
diminuição do débito urinário.
Visto ter cogitado a
possibilidade de tratar-se de um quadro de rabdomiólise, iniciou,
imediatamente, e nas 12 horas subsequentes, a ingestão hídrica de sete litros
de água via oral, bem como realizou exames laboratoriais.
Por força dos resultados dos
exames e do regular estado geral, o paciente foi internado, quando eram, então,
decorridos dois dias do esforço físico. No momento da internação,
apresentava-se com calafrios intermitentes, sudorese profusa, rash cutâneo,
cefaleia holocraniana, impossibilidade total de flexão dos membros superiores e
execução de outros movimentos que envolvessem o tronco. E permaneceu internado
até o desaparecimento da mialgia e do retorno dos valores de referências
averiguados nos exames laboratoriais.
Por fim, diante de relatos cada vez mais frequentes, devemos nos manter
atentos na prescrição da carga de treinamento, orientação e monitoramento de
treinamentos constituídos por exercícios físicos de alta intensidade.
PERFEITO!! bem esclarecedor, sucinto e objetivo! profissionais e alunos precisam saber disto para que ambos tomem consciência das fronteiras invisíveis que não deveriam ultrapassar!
ResponderExcluirAbraço
Oi, vc poderia me passar a referência desse artigo?
ResponderExcluir